quinta-feira, 22 de maio de 2014

A JUVENTUDE

"É sempre a mesma coisa. As roupas espalhadas sobre a cama, os sentimentos involuntários, o tempo que passa e ricocheteia na minha cara. Nada muda, exceto o pinheirinho que cresce ao lado da janela do meu quarto. Talvez seja por isso que eu perceba o tempo passando. Não saio daqui a tempo. Não vejo motivos para sair. Minhas roupas estão ficando gastas,e não consigo me dar razões para comprar novas.

-Quem iria querer me ver assim?

Não me depilei até minha mãe perceber e me puxar pelo braço em uma corrida alucinada até o banheiro de meu quarto. Minha sobrancelhas estão grossas, desalinhadas. Não vejo minhas amigas a dias. O que importa? Estou de férias. Três meses de total reclusão. Quem saiba eu possa fazer um diário sobre como aprender a ressuscitar, ou sobre como manter os hábitos oriundos das cavernas. Que maravilha! Provavelmente deve virar um best seller. Janto na cozinha por obrigação da minha mãe, tudo que me faz sair de meu quarto é culpa dela. Eu me englobo em um mundo só meu e depois de engolir alguns fiapos de comida forçadamente, me dou por satisfeita e alego precisar voltar. De volta ao meu martírio, meu quarto, minha doce e cruel cama. Minha mãe já se acostumou, diz somente que quer me ver melhor até a volta às aulas. Eu murmuro um som ininteligível, treino de minhas aulas das cavernas. Isso mesmo, best seller. Meus lençóis nunca me pareceram tão acolhedores como nesses últimos dias.

E me resta apenas um mês. Volto e me cubro até a cabeça."
 
Beijos,
Vanessa Preuss

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