terça-feira, 24 de junho de 2014

GAROTA MIMADA- 1


 
Entro em colapso quando percebo que a melhor roupa que tenho para sair está suja. E eu ainda preciso sair. O que faço? Primeiro, decido quebrar tudo. Assim, bem quebrado, com direito a caquinhos insondáveis até para astronautas especializados. Depois, respiro fundo. Digo, fundo mesmo, porque me acalmar repirando não é uma fácil tarefa. Chamo a minha mãe enquanto procuro qualquer outro trapo que possa me servir de roupa no armário.
Certo. É só uma saída com as amigas. Mais certo, nem sei se haverá garotos lá. Vamos somente tomar um milk-shake no capricho. Emburro a cara. Dane-se, preciso me vestir bem e ponto. Sou garota, vaidosa, mimada pelos meus pais e por mim mesma. Preciso ser essa dama na sociedade.
Minha mãe chega enquanto ainda estou discutindo comigo através do espelho.
-Filha, o que está fazendo?
Paro. Droga, não acredito que minha mãe me viu fazendo isso. Faço um sinal para ela esperar, me recomponho, e depois a chamo novamente e ergo dois vestidos. Estou na dura escolha entre uma blusa cropped e uma Animale. Mas, na verdade, não passam de dois vestidos de linho que só se diferenciam pela cor.  Mas ainda faço de conta que é a primeira opção, a dura escolha. Coisa de menina mimada, certo? Claro que não!
Minha mãe aponta o rosa. Certo, bufo. Vou ficar com rosa. Faço um sinal para ela sair e começo a despir-me daquela roupa de fim de tarde após o banho que ninguém te vê usando. Só seus pais. E teus avós. Ok.. Meu gato Percy também vê. Mas é só. Quinze minutos depois, saio de lá com o cabelo de lado e a maquiagem que já tinha feito bem antes contrastando com a cor do meu vestido. Estou emburrada, mas não tenho tempo a perder.
Abro a porta que ninguém abriu para mim, dou um chute na cauda do vestido para cima e seguro com a mão que não segura minha falsa Chanel Nº5. Ninguém, absolutamente, precisa saber desse detalhe. Anna me espera, grita do carro que acabou de estacionar. Está mais feia que eu. Beleza! Dou um sorriso grande e começo a caminhar até ela.
-Um vestido de pontas?-ela me pergunta, evidentemente surpresa ou assustada.
Tento me fazer de desinibida, mando um beijo e digo: - Sim.
-Só para ir no bar da esquina?
Eu me pergunto se ela realmente é minha amiga. Faço um bico:

-Vamos para uma lanchonete. Por favor, nunca mais repita a palavra “BAR” ou “BOTECO”.

-Mas eu não disse boteco!

-Certo, esqueça. Vamos.

E assim começa mais uma das nossas noites "incríveis".


Vanessa Preuss

 

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