Entro em colapso quando percebo que a melhor roupa que tenho
para sair está suja. E eu ainda preciso sair. O que faço? Primeiro, decido
quebrar tudo. Assim, bem quebrado, com direito a caquinhos insondáveis até para
astronautas especializados. Depois, respiro fundo. Digo, fundo mesmo, porque me
acalmar repirando não é uma fácil tarefa. Chamo a minha mãe enquanto procuro
qualquer outro trapo que possa me servir de roupa no armário.
Certo. É só uma saída com as amigas. Mais certo, nem sei se
haverá garotos lá. Vamos somente tomar um milk-shake no capricho. Emburro a
cara. Dane-se, preciso me vestir bem e ponto. Sou garota, vaidosa, mimada pelos
meus pais e por mim mesma. Preciso ser essa dama na sociedade.
Minha mãe chega enquanto ainda estou discutindo comigo
através do espelho.
-Filha, o que está fazendo?
Paro. Droga, não acredito que minha mãe me viu fazendo isso.
Faço um sinal para ela esperar, me recomponho, e depois a chamo novamente e
ergo dois vestidos. Estou na dura escolha entre uma blusa cropped e uma
Animale. Mas, na verdade, não passam de dois vestidos de linho que só se
diferenciam pela cor. Mas ainda faço de
conta que é a primeira opção, a dura escolha. Coisa de menina mimada, certo?
Claro que não!
Minha mãe aponta o rosa. Certo, bufo. Vou ficar com rosa.
Faço um sinal para ela sair e começo a despir-me daquela roupa de fim de tarde
após o banho que ninguém te vê usando. Só seus pais. E teus avós. Ok.. Meu gato
Percy também vê. Mas é só. Quinze minutos depois, saio de lá com o cabelo de
lado e a maquiagem que já tinha feito bem antes contrastando com a cor do meu
vestido. Estou emburrada, mas não tenho tempo a perder.
Abro a porta que ninguém abriu para mim, dou um chute na
cauda do vestido para cima e seguro com a mão que não segura minha falsa Chanel
Nº5. Ninguém, absolutamente, precisa saber desse detalhe. Anna me espera, grita
do carro que acabou de estacionar. Está mais feia que eu. Beleza! Dou um
sorriso grande e começo a caminhar até ela.
-Um vestido de pontas?-ela me pergunta, evidentemente
surpresa ou assustada.
Tento me fazer de desinibida, mando um beijo e digo: - Sim.
-Só para ir no bar da esquina?
Eu me pergunto se ela realmente é minha amiga. Faço um bico:
-Vamos para uma lanchonete. Por favor, nunca mais repita a palavra “BAR” ou “BOTECO”.
-Vamos para uma lanchonete. Por favor, nunca mais repita a palavra “BAR” ou “BOTECO”.
-Mas eu não disse boteco!
-Certo, esqueça. Vamos.
E assim começa mais uma das nossas noites "incríveis".
Vanessa Preuss
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