quarta-feira, 19 de novembro de 2014

UM NOVO CORTE DE CABELO + UMA DICA DE TEMPERO NA VIDA


Mude algo na sua vida. Pode ser um canto de seu quarto, um sonho, um trajeto, um pensamento, o corte do cabelo. Isso clareia a vida, te liberta da zona de conforto, te dá imaginação, menos cabelos brancos, mais endorfina. Mude algo em sua vida e seja menos prisioneiro do medo, do cotidiano, das confusões e percalços que surgem volta e meia e sem você querer. Se alguém te puxa para baixo, por que ficar lutando e perdendo seu tempo tentando chegar à superfície? Liberte o cordão dela. Simples. Ela se vai adiante, e você nunca precisou estar amarrada a ninguém para chegar onde deseja.
A dica é super válida, né?


Mas confesso que mesmo falando manso e bonito assim, boa parte da minha vida foi mergulhada na tranqüila cidade pacata da mesmice. Talvez isso fosse bom para eu mexer os pauzinhos e sair em busca do meu sonho, mas de certa forma, quando eu era mais nova, eu nem sabia o que era isso. Mudar era o que mesmo? Também pudera: Meu quarto era dividido com a irmã, nossa cidade era pequena, andávamos sempre a pé. Minha primeira grande viagem foi aos 15 anos, para o Beto Carrero World (pensem numa emoção!), e comprei meu primeiro computador pouco antes de entrar para a faculdade. Esse aliás, foi meu primeiro grande passo na vida. Trabalhei desde os 12 anos cuidando de crianças, fazendo doces, trabalhando em lojas, e com calçados. Uma legítima faz-tudo na vida, que me ensinou muito sobre batalhar pelos nossos sonhos e dar valor ao nosso valioso e suado dim-dim. A primeira grande aquisição -o computador J- veio novinho em folha e à vista (óóó!) Sim! Me orgulho bastante disso até hoje porque foi totalmente pelo meu mérito, visto que não haviam abonos salariais nem mesadas naquela minha época (nem nunca, em resumo.) :P
E depois disso, várias mudanças foram se incrementando: veio a maturidade, a responsabilidade, o primeiro beijo (ta ok, esse foi antes da faculdade. Faça-me o favor, Vanessa!), o primeiro namoro e decisões complicadas quanto ao que fazer da vida, como sobreviver e comprar o pão de cada dia. Brincadeiras à parte, o pão ainda vem de casa, mas pouco a pouco vou seguindo em direção à total independência. Viva! Mas questões como emprego, futuro e planos de carreira já eram levados muito a sério quando eu ainda tinha 19. Trabalhei como colunista em três jornais, saí para a cidade grande sem saber ao certo como me deslocar ou como não me perder, e bati perna atrás de meu sonho sem pensar se daria certo ou não. Numa bela segunda-feira, depois do meu serviço, peguei minha recém-tirada carteira e fui atrás do jornal da cidade vizinha para me apresentar. Levei alguns textos de faculdade, outros de colunas que havia escrito, e bati na porta toda cara de pau. Eu estava aí para tentar, não era mesmo?
Enfim. Depois daquele dia deu certo... E também não deu. Duas semanas de estágio depois, quando fui efetivada, pulei por cima de todos os arbustos e quase fiquei sem conseguir colocar os pés no chão de alegria. Ironia do destino, a alegria foi dando espaço a um desconsolo cada vez maior, e apenas cinco meses depois eu me via completamente frustrada. Não era aquelas coisas que eu queria escrever. Não eram notícias. Não eram desastres, nem informações das prefeituras, associações, etc.
O que eu estava fazendo no jornalismo? O.o

Eram sonhos. 

Era um pássaro na calçada. Era um sorriso de criança. Eu queria escrever o romance do casal que encontrei na rua, a paquera dos garotos na esquina da minha casa. Eu queria escrever sobre músicas, sentimentos, raiva, dor, pessoas e sensações. E tudo isso estava proibido para mim.
Graças a Deus (e ele sempre foi muito generoso comigo) a tragédia não foi tão grave assim no fim: saí de lá, chorei em torno de um mês e voltei à batina diária. Trabalhei, coloquei os parafusos na minha cabeça para pensar e – tcharãn!- escrevi um livro.
Então esse ano, segurei-o pela primeira vez com lágrimas nos olhos..rs, fui a Porto Alegre, participei de um debate na Universidade do Vale dos Sinos, ando falando e dando as caras até mesmo onde eu nem imaginava chegar. Além disso, também decidi por algumas coisas que não custam nada, mas valem muito. Sabe a história de que dar é melhor que receber? É a mais pura verdade.
Cortei meu cabelo e o corte foi, digamos, radical. Certo, sem laterais raspadas ou cores roxas e/ou azuis porque sou (pelo menos nesse sentido) ainda medrosa. No entanto, para quem nunca saiu do clássico “só as pontinhas”, não sabe o que é a mudança que sofri. Cortei um simples e prático chanel, e doei as mechinhas que ficaram para o Hospital do Câncer de Porto Alegre, o Hospital Santo Antônio. Amei meu corte de cabelo, tirei 54.786 fotos dele, e o que foi meu coração na hora de entregar as mechinhas? A alegria de ver aquelas crianças e perceber que com um gesto tão pequeno você transforma um mundo de uma pessoa não tem preço.


Fui especialmente lá no dia das crianças para comemorar, entregar brinquedos, sorrir e conversar, mesmo que um pouquinho. A visita era rápida e não podíamos abraçar as crianças por causa de suas doenças, mas ainda assim valeu muito. E por essas e outras que percebo a importância de se ter sonhos. E por essas e outras eu vejo a necessidade de olhar além do seu próprio umbigo, da imensidão do seu ínfimo espaço, por que o mundo é muito maior do que a gente pensa. E a gente precisa de pessoas. Não importa se você tem um produto, empresa, associação ou barraquinha de suco na esquina. A gente precisa das pessoas para viver, sonhar e compartilhar o mundo, e perceber que ele vai muito além do que a gente imagina. O mundo é infinito. As vidas e as pessoas são finitas. Um dia acaba tudo aquilo que fizemos. E sem nós o mundo continua, e cada gesto, por mais pequeno que pareça, ficará marcado em cada coração pelo qual passamos, seja ele bom ou ruim. Essa é a razão de viver e fazer o bem, antes de qualquer outra coisa.

Ah, e eu disse? Amei meu corte de cabelo! J



Beijos carinhosos,


Vanessa Preuss

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