"No sábado de manhã, Thomas e meu pai me levam até o aeroporto. Tudo que eu
preciso coube em uma mala, uma bolsa pequena à tiracolo e outra mala de mão,
que contêm o tablet que ganhei de Susan no dia anterior.
Estamos indo até meu destino final em solo brasileiro, e ainda não sei como
me despedir. E saber que estou a um passo de fazer isso é entediante. Seguro
minhas mãos firme no banco enquanto Thomas corre como um louco pelo asfalto, e
tento ali, no pequeno espaço de sossego com minha memória, articular algumas
boas palavras de despedida.
O que eu poderia dizer? Estou temendo
lágrimas e gargantas presas, mas sei que isso é inevitável. Nenhum de nós falou
nada desde que saímos de casa. Droga. Faltam apenas alguns minutos para
chegarmos, e ainda não sei por que Thomas anda tão depressa. Talvez pense que
assim tenhamos mais tempo para se despedir, embora eu saiba que isso não mudará
nada para mim. Já me despedi de Amanda, meus poucos vizinhos, e mais
alguns que me ligaram desejando boa sorte. Chorei feito uma condenada. Agora,
tenho certeza que não vai ser diferente.
Continuo olhando pela janela hesitante, e enquanto procuro me manter
distraída, sei que já entrei em colapso quando uma lágrima começa a cair.
-Você está chorando!
Meu pai olha para mim da forma mais idiota possível ao dizer isso, enquanto
eu pego as minhas malas que Thomas me alcança do porta-malas.
Tento imaginar o quanto isso é trágico. Tudo o que eu mais desejava agora se
resume em lágrimas imbecis.
-Pois é- digo. –Minha hora chegou.
Abraço o tablet contra meu peito como um consolo enquanto Thomas fecha o porta-malas.
-Se não quiser ir – meu pai me lança um olhar ansioso.
Ah, certo. Era o que me faltava.
-Não, pai. Claro que quero- eu rebato imediatamente. – Só detesto despedidas. Sabe como sou.
-Você lembra que deve nos ligar logo que chegar lá, não é mesmo.
-Sim.
-E todos os dias, para saber como você está.
Um sorriso surge inesperadamente no meu lábio. -Claro que sim, pai.
Isso vai ser caro, mas vou ter outras alternativas para me comunicar.
-Vamos- Thomas me acorda como em todas as outras vezes, e acho que é só para que eu dê-me conta que isso não vai mais acontecer de novo tão cedo. Não terei dois soldadinhos de chumbo me monitorando, e isso será muito bom.
Mas nem fui embora e já estou com saudades. Engulo o soluço. Merda. Não vou
chorar. Finalmente chegamos ao saguão do Aeroporto
Internacional de Porto Alegre, meu último passo em terreno brasileiro. O dia
aqui está lindo apesar do frio, e um vento forte cessa assim que damos passagem
dentro da porta central. Procuro a passagem em meu bolso enquanto meu pai faz
questão de empurrar a mala para mim.
-É, meu voo já vai sair.
Olhamos uns aos outros atônitos sem saber o que dizer. Pela primeira vez,
sinto vontade de largar tudo.
-Vou sentir saudades- meu pai me abraça.
-Eu também- engasgo sem jeito.
Ele desgruda de mim com dificuldade, e então olho para Thomas. Acho que vejo uma lágrima querendo escapar de seus olhos, mas não tenho certeza. Nunca o vi chorar. Não pessoalmente.
-Então está- ele me diz.
-É, está- aquilo me faz achar graça, e dou um sorriso grande para ele. - Eu ligo para você também, não se preocupe.
Ele me puxa inesperadamente, me abraça e sussurra no meu cabelo.
-Vou esperar todo dia. Ah, e tem uma coisa que deixei para você dentro da mala.
Encaro-o descrente, até ouvir o primeiro sinal para embarcar. Céus. Está na
hora. Meu pai me dá a mala e saio de lá atordoada enquanto escuto a moça do alto
falante indicar o voo. Aceno de longe para eles. Estou me distanciando das
únicas pessoas que fazem parte da minha vida, e embora seja por uma boa razão,
estou em frangalhos.
Aperto a mão firmemente na bolsa e fungo pela milésima vez. É isso, então.
Hora de partir. Corro até meu local de embarque segurando meus olhos
para não chorar, o que é inevitável."
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