Juro que adoro essas voltas até o ônibus. Lá estou eu, bela e
sincera, agarrada à meu guarda-chuva ranzinza, pulando em poças, gravetos,
sonhos, ideias fixas e recordações. De repente, aparece um garoto ao meu lado, rindo
e conversando como se fôssemos velhos amigos.
Tudo bem, ele já estava antes na minha frente. Com outro garoto
a tiracolo, também rindo e falando abobrinhas, e o ignorei. Pudera, eu também
travara uma luta contra meu cabelo rebelde, ajeitado num bonito coque que agora
escorria junto com a chuva. Apertei os cadernos em meu colo e segurei firme o
guarda-chuva. Mais tarde eu teria uma boa de uma conversa com meu cabelo.
- Essa chuva está terrível hein- ele ri para mim.
Me viro surpresa para ele. Oi? Que legal isso! Um garoto que
nunca vi, falando de um jeito tão bacana comigo, na volta do estacionamento da
escola? (Adoro essas coisas).
-Sim!- respondo sorridente.
Olho para seu rosto. Uau! Ele é lindo!
-Eu tenho um problema com esse meu guarda-chuva em dias assim-
ele continua a rir. E eu, comecei uma terrível luta interna para não pregar tanto
os olhos nele. Nossa, ele é mesmo belo. Tem umas covinhas tão fofas e.. Pare já
com isso, Camila!
Passamos debaixo de uma árvore e seu guarda-chuva prende o galho
acima de nós. E fecha. E ele ri. Encolhe-se e tenta abrir o guarda-chuva
novamente.
-Viu só?
Estou vendo seu sorriso lindo, penso. Como ele ainda consegue
rir? Me inclino para lhe oferecer carona, mas ele é rápido e já está abrindo o
seu novamente. E rindo.
-Isso já aconteceu hoje cedo. Na verdade, são gravíssimos problemas
com esse rapazinho aqui - ele diz.
Eu estou tendo com esse seu sorriso, penso- de novo- para mim. E
sorrio de volta. Gostei dele.
-Isso acontece- tento ser solidária. –Também sou uma desastrada
com um tempo assim.
Sou desastrada com tudo, na verdade. E estou odiando já estar
chegando no meu ônibus.
-Hoje não era um dia apropriado para se ir na escola. Mas, há
muita coisa mais importante que se jogar em casa.
Porque tão lindo,
senhor? Por
quê?
-Faz parte- tento me recompor, colidindo meu sorriso com o dele.
–Até gosto de dias assim. Precisamos deles também.
Nossa conversa está ficando balela, mas encaro um milhão de dias
assim se puder usufruir dessas covinhas! Ai, JESUS.
-Meu ônibus é esse- trombo nos meus pés. Choro ao invés de
falar, pelo menos para mim.
-Prazer ter te conhecido- ele sorri.
Emudeço. – O prazer foi meu. – Não vá embora! Volte, volteeee! Minha deusa se ajoelha a seus pés.
Me encolho para entrar no ônibus, desolada, e ele segue seu
caminho. Mas, peraí. Esse ônibus não é meu!
Agarro minha sombrinha de novo e volto à realidade, enquanto ele
continua seu caminho. Provavelmente rindo. Meu ônibus está duas vagas adiante. E
meu coração estateado no chão. Burra! Vou correr até ele. Isso! Mas.. O que vou
dizer?
Meu inconsciente me encara abobado. -Diga a ele que gostou do
seu sorriso.
-E depois?- Pergunto atordoada.
-Depois? Deixa rolar.
Ah, eu já disse que adoro dias de chuva? <3
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