Mude algo na sua vida. Pode ser um canto de seu
quarto, um sonho, um trajeto, um pensamento, o corte do cabelo. Isso clareia a
vida, te liberta da zona de conforto, te dá imaginação, menos cabelos brancos,
mais endorfina. Mude algo em sua vida e seja menos prisioneiro do medo, do
cotidiano, das confusões e percalços que surgem volta e meia e sem você querer.
Se alguém te puxa para baixo, por que ficar lutando e perdendo seu tempo
tentando chegar à superfície? Liberte o cordão dela. Simples. Ela se vai adiante,
e você nunca precisou estar amarrada a ninguém para chegar onde deseja.
A dica é super válida, né?

Mas confesso que mesmo falando manso e bonito assim,
boa parte da minha vida foi mergulhada na tranqüila cidade pacata da mesmice. Talvez
isso fosse bom para eu mexer os pauzinhos e sair em busca do meu sonho, mas de
certa forma, quando eu era mais nova, eu nem sabia o que era isso. Mudar era o
que mesmo? Também pudera: Meu quarto era dividido com a irmã, nossa cidade era
pequena, andávamos sempre a pé. Minha primeira grande viagem foi aos 15 anos, para
o Beto Carrero World (pensem numa emoção!), e comprei meu primeiro computador
pouco antes de entrar para a faculdade. Esse aliás, foi meu primeiro grande
passo na vida. Trabalhei desde os 12 anos cuidando de crianças, fazendo doces,
trabalhando em lojas, e com calçados. Uma legítima faz-tudo na vida, que me
ensinou muito sobre batalhar pelos nossos sonhos e dar valor ao nosso valioso e
suado dim-dim. A primeira grande aquisição -o computador J-
veio novinho em folha e à vista (óóó!) Sim! Me orgulho bastante disso até hoje
porque foi totalmente pelo meu mérito, visto que não haviam abonos salariais
nem mesadas naquela minha época (nem nunca, em resumo.) :P
E depois disso, várias mudanças foram se incrementando:
veio a maturidade, a responsabilidade, o primeiro beijo (ta ok, esse foi antes
da faculdade. Faça-me o favor, Vanessa!), o primeiro namoro e decisões complicadas
quanto ao que fazer da vida, como sobreviver e comprar o pão de cada dia.
Brincadeiras à parte, o pão ainda vem de casa, mas pouco a pouco vou seguindo
em direção à total independência. Viva! Mas questões como emprego, futuro e
planos de carreira já eram levados muito a sério quando eu ainda tinha 19.
Trabalhei como colunista em três jornais, saí para a cidade grande sem saber ao
certo como me deslocar ou como não me perder, e bati perna atrás de meu sonho
sem pensar se daria certo ou não. Numa bela segunda-feira, depois do meu
serviço, peguei minha recém-tirada carteira e fui atrás do jornal da cidade
vizinha para me apresentar. Levei alguns textos de faculdade, outros de colunas
que havia escrito, e bati na porta toda cara de pau. Eu estava aí para tentar,
não era mesmo?
Enfim. Depois daquele dia deu certo... E também não
deu. Duas semanas de estágio depois, quando fui efetivada, pulei por cima de
todos os arbustos e quase fiquei sem conseguir colocar os pés no chão de alegria.
Ironia do destino, a alegria foi dando espaço a um desconsolo cada vez maior, e
apenas cinco meses depois eu me via completamente frustrada. Não era aquelas
coisas que eu queria escrever. Não eram notícias. Não eram desastres, nem
informações das prefeituras, associações, etc.
O que eu estava fazendo no jornalismo? O.o
Eram sonhos.
Era um pássaro na calçada. Era um sorriso
de criança. Eu queria escrever o romance do casal que encontrei na rua, a
paquera dos garotos na esquina da minha casa. Eu queria escrever sobre músicas,
sentimentos, raiva, dor, pessoas e sensações. E tudo isso estava proibido para
mim.
Graças a Deus (e ele sempre foi muito generoso
comigo) a tragédia não foi tão grave assim no fim: saí de lá, chorei em torno
de um mês e voltei à batina diária. Trabalhei, coloquei os parafusos na minha
cabeça para pensar e – tcharãn!- escrevi um livro.
Então esse ano, segurei-o pela primeira vez com
lágrimas nos olhos..rs, fui a Porto Alegre, participei de um debate na
Universidade do Vale dos Sinos, ando falando e dando as caras até mesmo onde eu
nem imaginava chegar. Além disso, também decidi por algumas coisas que não
custam nada, mas valem muito. Sabe a história de que dar é melhor que receber?
É a mais pura verdade.
Cortei meu cabelo e o corte foi, digamos, radical.
Certo, sem laterais raspadas ou cores roxas e/ou azuis porque sou (pelo menos
nesse sentido) ainda medrosa. No entanto, para quem nunca saiu do clássico “só
as pontinhas”, não sabe o que é a mudança que sofri. Cortei um simples e
prático chanel, e doei as mechinhas que ficaram para o Hospital do Câncer de
Porto Alegre, o Hospital Santo Antônio. Amei meu corte de cabelo, tirei 54.786
fotos dele, e o que foi meu coração na hora de entregar as mechinhas? A alegria
de ver aquelas crianças e perceber que com um gesto tão pequeno você transforma
um mundo de uma pessoa não tem preço.

Fui especialmente lá no dia das crianças para
comemorar, entregar brinquedos, sorrir e conversar, mesmo que um pouquinho. A
visita era rápida e não podíamos abraçar as crianças por causa de suas doenças,
mas ainda assim valeu muito. E por essas e outras que percebo a importância de
se ter sonhos. E por essas e outras eu vejo a necessidade de olhar além do seu
próprio umbigo, da imensidão do seu ínfimo espaço, por que o mundo é muito
maior do que a gente pensa. E a gente precisa de pessoas. Não importa se você
tem um produto, empresa, associação ou barraquinha de suco na esquina. A gente
precisa das pessoas para viver, sonhar e compartilhar o mundo, e perceber que
ele vai muito além do que a gente imagina. O mundo é infinito. As vidas e as
pessoas são finitas. Um dia acaba tudo aquilo que fizemos. E sem nós o mundo
continua, e cada gesto, por mais pequeno que pareça, ficará marcado em cada
coração pelo qual passamos, seja ele bom ou ruim. Essa é a razão de viver e
fazer o bem, antes de qualquer outra coisa.
Ah, e eu disse? Amei meu corte de cabelo! J
Beijos carinhosos,
Vanessa Preuss